domingo, 31 de outubro de 2010
Samhain
Caminhamos devagar, passos lentos, sem pressa, juntos guiamos a carroça, Ela insiste em caminhar e eu respeito a sua vontade, apesar da idade seus passos são firmes e deixam pegadas precisas na neve.
Seguimos em silêncio, pouco falamos, pois nosso olhar comunica tudo o que precisamos um ao outro nesse momento, apesar de saber que Ele gostaria de ouvir nossa voz e nosso riso, mesmo que isso não seja possível no momento, talvez seja essa lembrança que me faz cantar uma musica que eles dois gostam tanto. Ela olha para mim e sorri, apesar da idade sua voz soa clara ao me acompanhar, e assim cantando chegamos à caverna.
Mesmo que não estivesse ornada, a carroça não percorreria o interior da caverna até onde é necessário, por isso mesmo eu o carrego nos braços até o local aonde devo deixa-lo em repouso. Seguro minhas lágrimas ao sentir o seu peso em meus braços, sei que não devo me entristecer, sei que ele não gostaria disso. Ela segue ao meu lado, sua mão segurando uma das mãos dele e enquanto seguimos Ela conversa com Ele, relembrando alguns momentos da atual jornada que está terminando.
Chegamos ao local, a mesa de pedra está e estará ali por muito e muito tempo ainda para recebê-lo, eu o deito sobre a mesa e Ela então começa os preparativos do ritual, eu a ajudo e acompanho tudo o que Ela faz e diz. Ela me pede que acenda as quatro tochas na parede enquanto ela traça o circulo, o aroma do incenso colocado no nincho da parede rapidamente toma conta do local.
Colocamos ao seu lado só o que Ele gostava, sua flauta, algumas frutas, seu arco e suas flechas, além da lança, da espada e do escudo, o vestimos com um manto verde escuro com detalhes em azul e sua pequena tanga, a qual ele dizia que incomodava e coçava e que era melhor correr da maneira como veio ao mundo, sorrimos ao lembrar disso. Ele sempre tão alegre, forte e carinhoso ao mesmo tempo.
Depois de tudo pronto iniciamos o ritual e ao final Ela pegou a tocha que trouxemos durante todo o caminho e acendeu a pira abaixo Dele, nos despedimos pela ultima vez, mas sabendo que em breve Ele estaria de volta, na verdade que ambos estariam de volta, pois agora era o momento de me despedir Dela, seu rosto cansado pela idade toma um novo ar, agora sombrio e depois de celebrar com Ela, entrego-lhe a tocha, e a vejo caminhar para o fundo da caverna na sua face negra da ceifadora, de onde Ela retornará como a Jovem.
Sem olhar para trás caminho para fora daquele local sagrado, sabendo que um dia serei eu que deitarei sobre aquela mesa de pedra, para em algum momento ressurgir do utero Dela.
Começa a anoitecer, e nesse momento os seres magicos surgem ao meu redor, e junto com eles eu celebro o Samhain e minha despedida dos meus pais, a Deusa e o Deus, que logo retornarão como a Jovem e a Criança da Promessa.
Feliz Samhain para todos.
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